Estórias de terapia
| Diálogos fictícios que poderiam ser reais |
Ajeito o fone. “Você tá me ouvindo bem?”
“Sim…” ele responde do outro lado
(Quase sempre começamos com conversas sobre aparentes amenidades que o atravessaram na semana. Um podcast, uma conversa escutada no metrô, uma mensagem de um amigue dispara perguntas…)
”Percebi que tenho preconceito comigo, mesmo depois de tanto tempo de terapia, ainda não superei isso. Eu quero ser de um jeito que não consigo e isso me irrita…”
“De que jeito que você não consegue? – pergunto
“Ah, sei lá… queria ser mais produtivo, mas ai fico pensando… Tava ouvindo essa semana um podcast falando de produtividade, e pensei: será que eu quero mesmo produzir mais? Pra quê? Que eu vou ganhar com isso?”
“Possivelmente um novo burnout…” – arrisco
“Pois é, depois de todo esse tempo, eu ainda me sinto caindo nessa de precisar ser alguém pra alguém que eu nem sei quem é. De uma sociedade, de uma família que nem sei se me cobra assim, no fundo, tudo isso é só uma desculpa…”
(Suspiro. Penso rápido o quanto é dolorido a sinceridade consigo. Não falo nada, deixo o silêncio abrir espaço.)
“Acho que… sei lá, talvez eu possa falar sim praquilo que tenho preconceito, principalmente, em mim e pra mim. Algo mínimo que pode ser muito, mesmo que eu não saiba explicar e nem dar nome”